Estudo brasileiro aponta aprovação de Vacinas contra o Câncer até 2030

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As vacinas de RNA mensageiro (RNAm) entraram para a história na pandemia da Covid-19. Agora, vão abrir uma nova fronteira contra outra doença: o câncer. Especialistas preveem a primeira aprovação de uma dose terapêutica para um tumor ainda nesta década.

Recentemente, estudos da Fiocruz tem seguido a tecnologia de vacinas antitumorais, redirecionadas para a Covid-19 desde 2020, retomando as pesquisas para o câncer de mama. No mundo, a mais avançada, na última etapa dos testes clínicos, é contra o melanoma, câncer de pele mais agressivo. A dose foi desenvolvida pela Moderna em parceria com a MSD e recebeu o status de ‘terapia inovadora’ pela FDA, nos Estados Unidos.

A plataforma de RNAm permite pesquisar e desenvolver um amplo espectro de vacinas e terapias, desde doenças infecciosas até doenças raras e oncologia. O objetivo é usar a tecnologia para instruir o sistema imunológico a detectar e atacar as células cancerígenas, visando melhorar os resultados dos pacientes.

Dados de fase 2 mostraram que a vacina proporcionou uma redução de 49% no risco de morte ou recorrência, e de 62% no de morte ou metástase. Além disso, o laboratório americano está nos estágios finais dos estudos clínicos de uma vacina contra o câncer de pulmão de células não pequenas e de câncer de bexiga.

Outro laboratório que lidera a criação de imunizantes de RNAm é o alemão BioNTech, que foi pioneiro com a Moderna nas vacinas da Covid-19. Lá, também estão sendo desenvolvidas doses avançadas contra o melanoma e o câncer de pulmão de células não pequenas, além de aplicações para carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço, câncer colorretal e adenocarcinoma ductal pancreático (um dos tumores mais letais).

Dados iniciais da dose contra o câncer de pâncreas, doença com apenas 13% de chance de sobrevivência, já apontam que, três anos depois da aplicação, metade dos pacientes que receberam a vacina ainda tinha uma resposta imunológica, o que foi associada a uma sobrevida mais longa e um risco menor de retorno do tumor.

“Como os estudos clínicos já estão acontecendo, e os primeiros resultados levam cerca de três anos de acompanhamento, em meados de 2026, 2027, já podemos sim ter uma aprovação, então é uma previsão realista. E o potencial dessas vacinas é imenso, vai ser um novo divisor de águas na oncologia”, afirma o oncogeneticista Bruno Filardi, pós-doutor em Imunopatologia Celular pela USP.

Especialistas explicam que as vacinas atuam fazendo com que o sistema imunológico reconheça o tumor — algo que não acontece naturalmente porque as células cancerígenas têm uma capacidade de sinalizar para as imunes que são “saudáveis” e, com isso, escapar das defesas do organismo.

Câncer de mama

No Brasil, a Fiocruz foi escolhida pela OMS em 2021 para impulsionar a plataforma de RNAm. Segundo Patrícia Neves, líder científica do Projeto RNA de Bio-Manguinhos que lidera o projeto em Bio-Manguinhos, agora que a pandemia está controlada, os pesquisadores voltaram a focar no combate aos tumores. Em estágio ainda muito inicial, já selecionaram proteínas de um tipo de câncer de mama.

“Nosso projeto está bem avançado, com previsão de preparar os lotes para o estudo toxicológico ainda esse ano. Esse é o último em animais antes de avançarmos para humanos. Nós estamos trabalhando inicialmente com câncer de mama triplo negativo, que é um tipo bastante difícil de tratar, embora seja muito prevalente e tenha uma mortalidade altíssima. Mas se nós provarmos que o processo para identificar os alvos da vacina é válido, poderemos replicá-lo para outros tumores”, conta.

A estratégia tem uma diferença em relação à dose contra o melanoma da Moderna e de outras em testes mais avançados. Enquanto a da farmacêutica americana é individualizada, ou seja, cada dose é manufaturada de forma individual com base na análise do tumor de cada paciente, a vacina da Fiocruz busca ser uma opção mais universal.

Essa técnica universal, embora não seja a utilizada nas doses mais avançadas dos laboratórios estrangeiros, também é testada em estudos clínicos pela Moderna, lembra Brown. O que mostra como a tecnologia em si não é um entrave, o desafio é encontrar as proteínas certas.

“O difícil é achar uma proteína que tenha efeito imunoprotetor para diferentes tumores. Existem mais de 200 doenças diferentes que chamamos de câncer. Essa identificação e testagem para ver se de fato induz a proteção demanda muito investimento, que precisa ser nacional se queremos incorporar essa tecnologia na rede pública”, afirma João Viola, imunologista e coordenador de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Informações: O Globo.