Um novo olhar para a pesquisa clínica em oncologia

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Motivados a mudarem a realidade da pesquisa na região onde atuam. Foi assim que a Dra. Aline Barros Pinheiro e o Dr. Angelo Borsarelli Carvalho de Brito, residentes selecionados no Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) deste ano, saíram de Ijuí (RS). Entre os dias 17 e 19 de junho, eles estiveram no Centro de Pesquisa em Oncologia do Hospital de Caridade – Oncosite, considerado referência nacional na área, onde puderam acompanhar todas as etapas do desenvolvimento de um estudo clínico.

Dra. Aline, que é residente do terceiro ano da Santa Casa da Bahia – Hospital Santa Izabel, em Salvador, conta que ficou impressionada com o engajamento e com a interação dos integrantes da equipe de pesquisa. “Eles foram muito profissionais e se mostraram preocupados em disseminar o conhecimento que possuem. Nos apresentaram o passo a passo para a condução de um estudo clínico, desde como entrevistar os pacientes até a interação com a assitência. Acompanhamos cada etapa ali, na prática”, diz ela.

Para Dr. Angelo, residente do primeiro ano do A.C.Camargo Cancer Center, na capital paulista, os três dias em Ijuí passaram muito rápido, pois durante todo o período tinham atividades. “Foi como um treinamento prático. Acompanhamos cada processo e cada uma das áreas envolvidas, como farmácia, enfermagem, entre outras”, conta.

De acordo com o Dr. Fábio Franke, vice-presidente da SBOC para Pesquisa Clínica e Estudos Corporativos, coordenador do Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí – Oncosite e do Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica, os dois residentes puderam conhecer a rotina de um centro de pesquisa de perto, o dia a dia dos investigadores, da equipe de coordenadoras que trabalha diretamente na parte regulatória e na parte burocrática do estudo, o funcionamento de uma farmácia de pesquisa, o recrutamento dos pacientes, inclusão em um protocolo de pesquisa, discussão de todas as questões regulatórias e éticas da aprovação sanitária. “São detalhes que, por vezes, só a teoria não nos traz, mas sim o convívio, por meio da prática”, salienta.

“Essa experiência fez com que eu mudasse o meu olhar quanto à realização da pesquisa clínica no Brasil, pois a equipe de Ijuí consegue conduzir os estudos mesmo com tantos entraves burocráricos”, relata a Dra. Aline. Para ela, tudo o que viu no Programa é reproduzível e conhecer a história do Centro de Pesquisa e de como tudo foi construído contribuiu para entender o ponto de partida, os desafios esperados e também o tempo levado para conquistar o patamar atual. “Com toda a bagagem que eu recebi lá, estou disposta a vivenciar a pesquisa em qualquer lugar que eu vá trabalhar e minha intenção para o futuro é realmente montar um centro de pesquisa”, diz a residente.

O Dr. Angelo conta que a imersão também mudou a sua percepção. “Eu tive a oportunidade de interagir com os pacientes e perceber o quanto eles são gratos pelo trabalho realizado no Centro de Pesquisa. Isso porque é por meio da pesquisa clínica que eles podem conseguir medicações que são eficazes, mas ao mesmo tempo muito caras, e acessíveis apenas para uma pequena parte da população”, relata o futuro oncologista.

Na avaliação do Dr. Fábio Franke, o objetivo foi totalmente cumprido. “Acredito que conseguimos despertar nos residentes a motivação pela qual o programa da SBOC foi criado, que é disseminar a pesquisa clínica Brasil afora”, afirma.

 

Os residentes com alguns integrantes da equipe do Centro de Pesquisas em Oncologia do Hospital de Caridade – Oncosite

Novas portas

Os dois residentes veem essa experiência como um diferencial que poderá abrir portas de atuação no futuro. “A importância da pesquisa no desenvolvimento do conhecimento e na melhora do tratamenro dos pacientes é essencial. Pude conhecer os processos e protocolos de pesquisa clínica. Isso me traz segurança para atuar na área e creio que fará a diferença na minha carreira”, ressalta Dr. Angelo.

“Eu vi uma nova porta se abrir, uma nova área de atuação. O Programa me mostrou que além da assistência na oncologia, é possível atuar na área de pesquisa também. E sei que é algo que nos próximos anos vai crescer muito aqui no Brasil, principalmente após a aprovação do marco regulatório da pesquisa clínica. Imagino que teremos uma grande demanda de estudos no país”, diz Dra. Aline.

Ela se refere ao projeto de lei 7082/2017, que está avançando na Comissão de Seguridade Social e da Família da Câmara dos Deputados. “Estamos bastante esperançosos de que o PL seja votado e finalizado nesta Comissão. O objetivo é que possamos, no novo governo, submetê-lo à última Comissão e, ainda em 2019, contar com esse marco regulatório para liberar as pesquisas clínicas no Brasil num tempo mais ágil, tanto na aprovação regulatória quanto na aprovação ética”, explica Dr. Fábio Franke.

O Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica da SBOC também selecionou quatro jovens oncologistas: um do Centro-Oeste, um da região Norte, um do Nordeste e um das regiões Sul/ Sudeste.